domingo, 20 de maio de 2012

Dracula e os vampiros

 Desde a antiguidade que o mito do vampiro suscita a curiosidade das pessoas. Suas lendas estão envoltas de mistério e perigo. O vampiro representa o homem e a sua eterna vontade de ser jovem, indo contra as leis da natureza e das religiões para obter essa juventude. O vampiro não morre, não envelhece, alimenta-se do sangue, o que lhe garante atravessar os séculos. É esta perenidade cruel que tanto seduz as pessoas, fazendo dos vampiros seres mitológicos cultuados, divulgados na literatura, no cinema, na televisão, nas revistas em quadrinhos e em diversos jogos digitais.
De todos os vampiros, Drácula é o mais famoso. Saído das páginas literárias, foi apresentado ao mundo em 1897, quando o escritor irlandês Bram Stoker publicou aquela que seria a sua obra-prima, “Drácula”. Apesar de nunca confirmado, o autor teria encontrado inspiração na figura de um nobre medieval, o voivoda (príncipe) da Valáquia Vlad Tepes. Drácula representa a obsessão pelo poder e pela eternidade. É desprovido de qualquer remorso ou compaixão. Para sobreviver, não hesita em matar e sorver o sangue das suas vítimas. É sedutor e misterioso, atraindo para si a paixão frívola das mulheres. Mas Drácula perde o seu lado demoníaco, quando persegue pelos séculos o amor da sua amada, que morta no passado, volta em reencarnações recentes. Um amor obsessivo, que faz do conde um ser humano, apesar da sua condição de vampiro. Esta vertente humana, obsessivamente apaixonada, a sua beleza fria e a cheirar a cadáver, os seus poderes ilimitados, sua capacidade de hipnotizar os que o ladeiam, fazem do conde Drácula um demônio sedutor, que atrai multidões aos cinemas, ou mesmo às páginas literárias.
Amados e temidos, Drácula e os vampiros construíram nas lendas modernas um espaço cada vez mais explorado e idolatrado. O fascínio dos vampiros fez com que deixassem de ser vistos como demônios das religiões pagãs, para serem cultuados como membros das lendas contemporâneas, exercendo curiosidade sem que se confundam com o misticismo. Algumas seitas modernas veneram os vampiros, mas não chegam a seduzir muitos seguidores, ao contrário das personagens fictícias exploradas na ficção. Drácula e os vampiros fazem parte da história do cinema e de uma literatura de culto. Continuam a hipnotizar milhares de pessoas com os seus poderes e a sua suposta juventude eterna.
O Sangue e os Vampiros
 A lenda do vampiro surge da visão que o homem tem do sangue, como fator mantenedor da própria vida. Tanto as antigas religiões politeístas, chamadas de pagãs, quanto às monoteístas, consideram o sangue como sagrado, sendo o responsável pelo envelhecimento e pela morte do homem.
A importância do sangue nas religiões, fez com que várias delas derramasse-o nos altares, em sacrifício aos deuses. Na tradição hebraica, o sangue humano não poderia ser oferecido, posto que a vida é sagrada, inviolável e intocável. Nos sacrifícios ao Deus único de Abraão, era oferecido apenas o sangue de animais considerados puros. Os egípcios, as civilizações da Mesopotâmia e mesmo os gregos e os romanos, ofereciam o sangue humano em holocausto aos seus deuses.
Se o sangue era considerado o símbolo da vida, houve sempre um entendimento que se um velho fosse alimentado pelo sangue de um jovem, recuperaria as forças e venceria a morte. Foi a partir dessa teoria que se desenvolveu a própria ciência da transfusão sanguínea. Homens poderosos recorreram ao sangue de jovens quando já próximos da morte. O papa Inocêncio VIII, em seu leito de morte, em 1492, teve um tratamento especial, feito por um médico judeu, que lhe aplicou uma transfusão com o sangue extraído de três meninos de dez anos. As três crianças morreram e,  conseqüentemente, o próprio papa. A transfusão sanguinea é amplamente descrita e divulgada no romance de Bram Stoker.
Os vampiros surgem como demônios que venceram os obstáculos da morte, alimentando-se com o sangue sagrado, de onde tiram a juventude e a eternidade, tornando-se portadores de poderes especiais e de uma força hercúlea. O sangue, de preferência humano, é o que lhes confere a imortalidade do corpo e a desintegração da alma, visto que são mortos vivos, e não possuem uma. Quando contaminado e transformado em vampiro, ele sente a morte da alma, ressuscitando em um ser com hábitos bestiais e atitudes de demônio, desprovidos da compaixão e de atos de generosidade. Ao conseguir a imortalidade, o vampiro perde as promessas divinas, pois está condenado a ser eternamente um assassino, a matar para comer. Qualquer templo religioso ser-lhe-á negado, e os símbolos, como a cruz, transformar-se-á em armas que o pode vir a castigar, repelir ou até mesmo a matá-lo.
As Características dos Vampiros
 Seres mitológicos antigos, os vampiros estiveram presentes nas tradições dos povos e das civilizações do Médio Oriente, da Europa e do Egito. Foi nas civilizações antigas do Nilo que surgiram os primeiros relatos sobre esses seres misteriosos, sendo os mais conhecidos e sanguinários Khonsu e Sekhmet. Na Suméria, o vampiro chegou a ser visto como filho de Lilith, um ser mitológico da tradição judaica, considerada a primeira mulher do mundo e de Adão. Muitas vezes foi confundido com Incubus. Na antiguidade, os sacerdotes identificavam os vampiros através das unhas, que eram fortes e mais grossas do que o normal, assimilando-se às garras.
Ao se tornar um vampiro, o contaminado deixa de poder ter contacto com o sol, dormindo, assim como os morcegos, durante o dia e caçando alimento à noite. Seus olhos ficam mais sensíveis à luz, e passam a ter uma visão potente. Para que possa obter o sangue como alimento, desenvolve os dentes caninos, transformando-os em longas presas.
Poderes estranhos e demoníacos possibilitam que os vampiros transformem-se em morcegos e lobos. Tornam-se senhores dos animais noturnos, controlando-os e dirigindo-os. Originalmente, os vampiros tinham a pele escura e grossa, nas versões cinematográficas atuais, passaram a tê-la branca e fantasmagórica. A audição passa a ser extremamente sensível e alta, fazendo com que sejam capazes de ouvir a aproximação de pessoas ou de outros vampiros a quilômetros de distância. Quando em perigo, podem desaparecer em uma névoa.
O vampiro perde a maioria dos seus órgãos vitais, como fígado, rins e pâncreas, que deixam de ter utilidade. O coração é o órgão que continua a funcionar em seu peito. Mas não possui ritmos característicos como nos seres humanos, batendo quase que imperceptivelmente. É como uma bomba que quando detonada, pode matar e destruir o vampiro. 
Aos vampiros não é permitido que se reproduzam entre si. O desejo sexual de um vampiro é tão latente quanto a sua sede de sangue. O desejo é refletido no seu poder irresistível de sedução, levando os humanos à paixão. Quando há um encontro de um vampiro com uma humana, ele pode engravidá-la. O filho dessa união terá poderes especiais, como saber distinguir quem é ou não vampiro, será dono de uma força extraordinária e de aguçado desenvolvimento dos cinco sentidos. As características são transmitidas geneticamente aos descendentes do humano e do vampiro.
Apesar de poderes quase que ilimitados, o vampiro passa a ter certas limitações que lhe podem ser fatais. O sol pode queimar-lhes a pele e afetar-lhes a visão, reduzindo-os a cinzas. Como foram desprovidos da alma, e matam para conseguir o alimento; a hóstia, a água benta, os metais consagrados, a cruz e os templos, tornam-se insuportáveis a eles, assim como o cheiro do alho. Podem ser mortos com uma estaca fincada no coração, transformando-os em pó.
Ao longo do tempo, várias características foram acrescentadas ao mito, sendo a imaginação o principal condutor das verdades vampirescas. Dos castelos medievais às tumbas de concreto, os vampiros modernizam-se, fazendo das suas aventuras uma sedutora paixão na legião dos seus fãs e mesmo daqueles que não os cultua, mas não lhes resiste.
O Mítico Príncipe Vlad Tepes
 O lendário conde Drácula foi criado por Bram Stoker, que o lançou em um livro que levava o seu nome, em 1897. A idéia surgiu quando o autor trabalhava como administrador do Royal Lyceum Theatre de Londres, cargo oferecido pelo amigo Henry Irving, de quem era, ao mesmo tempo, secretário e empresário. Na época Bram Stoker entrou em contato com uma sociedade londrina que tinha fascínio pelo sobrenatural. Em 1890, ele começou a escrever um romance sobre vampiros, sem título definido. No verão daquele ano, estava em férias em Whitby, quando cogitou pela primeira o nome de “Drácula” para aquele romance.
Na última década da centúria oitocentista, a Inglaterra era tomada pela efervescência dos movimentos espiritualistas, o que influenciou profundamente Bram Stoker. Esoterismo e ciência mesclavam-se entre os intelectuais da época. Stoker passa a estudar certos detentos nas cadeias inglesas, obcecados por verterem sangue e ingeri-lo. Sete anos após ter sido iniciado, Bram Stoker publica “Drácula”. Lançando a personagem para o mundo, tornando-a mais importante do que a própria obra literária.
Baseado nas histórias de vampiros da Transilvânia, região da Romênia, “Drácula” pode ter sido inspirado no príncipe da Valáquia, Vlad Tepes Draculea, que viveu no século XV. Vlad III nasceu em 1431, em Sighisoara, atual Romênia. Tornar-se-ia voivoda (príncipe) da Valáquia por três vezes: em 1448, de 1456 a 1462 e em 1476. Vlad III viveu na época em que o Império Otomano tomou Constantinopla aos gregos, em 1453, e iniciou a sua expansão pelos Bálcãs, originando uma guerra sangrenta entre cristãos e muçulmanos .
Vlad III era filho de Vlad II, membro de uma sociedade cristã de Roma, chamada Ordem do Dragão, em que nobres da região se uniam para defender os territórios da invasão Otomana. Como membro da ordem, Vlad II era chamado de Vlad Dracul (dragão). Seu filho, Vlad III, herdou por conseqüência, a alcunha do pai, sendo chamado de Vlad Draculea – filho do dragão, já que a terminação “ea” significa filho.
Vlad Draculea ficou conhecido pela crueldade e perversidade com as quais tratava os seus inimigos. As suas atrocidades alimentavam o imaginário popular de alguns camponeses, que passaram a associá-lo com os mitológicos vampiros. Diante daquela crueldade, a palavra Dracul, que também significava “diabo”, passou a ter este sentido quando os inimigos de Vlad Draculea referiam-se a ele.
O voivoda tinha como costume empalar os seus inimigos, atravessando-os com uma estaca de madeira. Para assistir ao suplício, costumava montar uma mesa no local e saborear um banquete, enquanto os inimigos agonizavam empalados. Por esta razão, passou a ser chamado de Vlad Tepes (Tsepesh), que significava “O Empalador”.
Vlad Tepes Draculea foi morto em batalha pelos otomanos em Bucareste, em 1476. Seu corpo foi decapitado e sua cabeça enviada à Constantinopla, onde o sultão a manteve em exposição em uma estaca, como prova que o famoso empalador estava morto. Seu corpo foi enterrado numa ilha próxima de Bucareste, Snagov.

 O túmulo foi escavado por arqueólogos  em 1931, mas no lugar do corpo só encontraram ossos de animais, o que reforçou a lenda de que Vlad Draculea era um vampiro.
Na Romênia e na Moldávia, Vlad Tepes Draculea é tido como herói nacional, por ter erguido vários mosteiros e combatido a expansão Otomana. Na vizinhança de Brasov, em Bran, ergue-se o castelo de Bran, conhecido como o castelo de Drácula. A fortaleza está situada na estrada 73, na fronteira da Transilvânia com a Valáquia e pode ser visitada por turistas. Vlad Draculea na verdade não residiu no castelo, a não ser quando teve que passar dois dias fechado na sua masmorra, quando os otomanos controlavam a Transilvânia. Por possuir torres pontiagudas e localização remota, o voivoda teria utilizado a fortaleza para fins militares.

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